O autista e sua paixão
Por Sergio Monteiro
Ele era um idealista no sentido puro da palavra. Ideal este doentio do amor entre um homem e uma mulher. Acreditava que em momentos remotos de outra vida fora dividido de sua perfeição e já nesta tinha reencontrado a metade. Apesar de sua genialidade de outras causas e coisas, era estupidamente apaixonado.
Mistura perigosa
Ele cantarolava em seus momentos de euforia uma musica atemporal que Renato Russo certa vez cantou. Era a ultima musica, do ultimo disco, de Cazuza.
Cazuza amava a musica como nosso amigo amava a Lua, ilusoriamente refletida numa poça. Via a imagem e não entendia que não estava lá.
Cantava assim:
My love,
There is only you in my life,
The only thing that’s right
E continuava mas sem a noção de quanto. Como medir o eterno?
Em suas sensações ele prolongava a continuação entre visões, ilusões, obsessões e mais uma vez sem ações de seu amor sem fim.
Estava enganado, doente e a ciência não poderia explicar.
Ele dizia:
_ Ela parecia determinada, eu não compreendia. Ali via a representação mas nunca a verdade. Tenho a imagem mas não o objeto.
Mas algo profundo, retornava a certeza além vida. Mais uma ilusão que o deixava caquético.
Fazia mal para seu corpo.
Neste estado teve inspiração e começou a escrever frases, textos e palavras que a principio eram desconexas e titubeantes.
Dizia o seguinte:
Ela não tinha forças e eu já não tinha certeza. Ela estava feia, e eu imaculado. Ela ficou e eu fui. Ela não envelhecia.
Vendeu quadros e poesias
Era ele mesmo.
29/02/11