sábado, 26 de março de 2011

O Autista e sua paixão

O autista e sua paixão
Por Sergio Monteiro

Ele era um idealista no sentido puro da palavra. Ideal este doentio do amor entre um homem e uma mulher. Acreditava que em momentos remotos de outra vida fora dividido de sua perfeição e já nesta tinha reencontrado a metade. Apesar de sua genialidade de outras causas e coisas, era estupidamente apaixonado.

Mistura perigosa

Ele cantarolava em seus momentos de euforia uma musica atemporal que Renato Russo certa vez cantou. Era a ultima musica, do ultimo disco, de Cazuza.
Cazuza amava a musica como nosso amigo amava a Lua, ilusoriamente refletida numa poça. Via a imagem e não entendia que não estava lá.

Cantava assim:

My love,
 There is only you in my life,
 The only thing that’s right

E continuava mas sem a noção de quanto. Como medir o eterno?
Em suas sensações ele prolongava a continuação entre visões, ilusões, obsessões e mais uma vez sem ações de seu amor sem fim.

Estava enganado, doente e a ciência não poderia explicar.

Ele dizia:
_ Ela parecia determinada, eu não compreendia. Ali via a representação mas nunca a verdade. Tenho a imagem mas não o objeto.

Mas algo profundo, retornava a certeza além vida. Mais uma ilusão que o deixava caquético.
Fazia mal para seu corpo.

Neste estado teve inspiração e começou a escrever frases, textos e palavras que a principio eram desconexas e titubeantes.

Dizia o seguinte:

Ela não tinha forças e eu já não tinha certeza. Ela estava feia, e eu imaculado. Ela ficou e eu fui. Ela não envelhecia.

Vendeu quadros e poesias
Era ele mesmo.

29/02/11